Desde pequena, sempre fui muito curiosa e estudiosa. Era uma daquelas crianças que gostava mesmo do mundo da imaginação, de desenhos, de filmes e fazer pequenas encenações improvisadas com os amigos usando fantasias de carnaval.
Eu era uma aluna muito boa na escola, mas uma matéria me incomodava muito: inglês. Uma surpresa? Pois é. Eu detestava aquelas aulas em que eu simplesmente não compreendia nada. Lembro muito bem que aos 8, 9 e 10 anos de idade, eu errava todos os exercícios, ia mal nas provas, e não entendia por que motivo aquilo não entrava na minha cabeça. A minha melhor amiga na época já estava cantando todas as músicas dos BackStreet Boys (lembrando que sou dos anos 90!) e eu me sentia uma completa idiota por não acompanhar nada.
O “pior” era que desde cedo, meus pais me martelavam com a importância de se falar inglês, e eu me sentia frustrada por não conseguir progredir justamente naquilo que eles consideravam tão essencial. Foi assim que, aos 11 anos de idade, eles matricularam a mim e ao meu irmão (gêmeo – sim, tenho um irmão gêmeo) em uma das escolas de idiomas da nossa cidade. Era uma escola conceituada e alguns colegas já estudavam lá. Desta vez, eu estava metade esperançosa, metade morrendo de medo. Será que iria funcionar?
Pois funcionou. Agora, sim, eu estava entendendo tudo. Começamos do bê-a-bá, e era disso que eu precisava. Olhando para trás, vejo claramente que havia também outros motivos: não apenas partimos do início, mas também tínhamos mais tempo de aula – para além daqueles 50 minutos por semana dentro de uma sala lotada, na qual a professora falava sozinha e, com sorte, era ouvida.
A turma neste curso tinha 6 alunos, somente. O que era melhor: não ficávamos apenas copiando um tanto de frases soltas do quadro. Tínhamos mais tempo e oportunidade de falar com a professora e também entre nós – era parte integrante da aula. Quase uma década depois, compreendi que ali já se usava uma metodologia de ensino que hoje é a minha preferida: a abordagem comunicativa.
A partir desse momento, minha história de amor com o inglês começou. Logo em seguida, ela se expandiu para o meu gosto pela ficção: eu passei a querer ver filmes em inglês, rever os desenhos que eu já conhecia em inglês (aqui, subentenda: “clássicos da Disney e afins”), estudar as músicas de que eu já gostava em inglês. Eventualmente, aos meus 15 anos, li meu primeiro livro em língua inglesa – Harry Potter and the Deathly Hallows. É claro que eu poderia ter começado com algum livro mais fácil, mas a verdade é a tradução oficial ainda iria demorar meses para sair, e, como boa fã que era, eu não me conformava em ter que esperar tanto para saber o que iria acontecer na história! A leitura foi um grande desafio, mas eu sobrevivi a ele e avancei como nunca na minha proficiência. Foi também nessa época que eu comecei a sonhar em fazer um intercâmbio – preferencialmente, para Inglaterra, o país do meu querido Harry. O intercâmbio para as cinzentas terras britânicas nunca se realizou, mas outra coisa muito melhor estava à minha espera e eu nem desconfiava.
Aos 17 anos, época de prestar vestibular, me candidatei para Relações Internacionais, num caminho contrário às minhas verdadeiras preferências. Porém, naquele momento, essa escolha parecia fazer sentido. A verdade era que o meu coração já batia pelas Letras. Eu até tinha selecionado o curso de Letras para algumas universidades, mas acabei me convencendo de que o ramo das línguas e das artes era apenas um Plano B.
Um ano se passou e estava onde “queria”, na Universidade Federal Fluminense, fazendo R.I., um curso competidíssimo, de prestígio, mas que não me trazia felicidade alguma. Eu não gostava nem mesmo dos meus colegas de classe. Sendo sincera, foi um período de grande infelicidade para mim. Entretanto, algumas coisas boas vieram dessa experiência: por um lado, uma certa “urgência” em aprender algum outro idioma; por outro, uma familiaridade com o mundo acadêmico. Foi neste ano, 2009, que me matriculei em um curso de francês e comecei a me apaixonar por mais uma língua estrangeira.
Depois de muitas noites mal dormidas e chorosas por estar me dedicando de corpo e alma a uma graduação que não me preenchia, finalmente admiti para mim mesma que precisava voltar atrás. Afinal, eu deveria me dedicar àquilo que fazia os meus olhos brilharem: o inglês, a literatura, a ficção. Tudo indicava que seria mais fácil dessa vez: eu já era aluna da universidade – poderia pedir transferência e em breve começaria um novo curso. Mas não funcionou. Como foi grande a minha surpresa ao descobrir que não havia vagas nesta modalidade! Eu deveria prestar novamente o vestibular.
Decidi, então, no meu segundo ano de faculdade de R.I., trancar a minha matrícula. Ao final do mesmo ano, lá estava eu fazendo novamente a prova para reingressar na UFF. Mas tudo deu certo – e não digo isso apenas por ter passado, mas porque, desde o PRIMEIRO DIA na nova graduação, me senti realizando um sonho. Eu me apaixonei pelas disciplinas e pelo ambiente. Encontrei pessoas que tinham gostos parecidos com os meus, interesses semelhantes, hobbies semelhantes. Finalmente me senti parte daquele conjunto.
A partir de então, as coisas começaram a fluir. No meu primeiro semestre de faculdade, eu já estava trabalhando numa escola de idiomas na minha cidade, lecionando inglês. No segundo, uma das minhas professoras da UFF – que coordenava um curso de extensão oferecido à comunidade acadêmica e ao público em geral – me convidou para ser uma das instrutoras. Por lá eu fiquei por um bom tempo, e essa oportunidade deu lugar a outras mais, envolvendo projetos de pesquisa e de trabalho.
Foi também nesta época que decidi que meu francês precisava progredir. Estudei como nunca e comecei a cursar disciplinas da graduação em francês concomitantemente às de inglês. Eu queria os dois diplomas. Com sorte, faria apenas mais dois anos de estudo depois de formada – o que, de fato, aconteceu. Terminei minha segunda graduação em 2019.
Outro ponto crucial nesta jornada foi a oportunidade de fazer um intercâmbio no Canadá. Logo no primeiro ano de faculdade, descobri que essa possibilidade existia. A UFF tinha parceria com outras faculdades no exterior, onde era possível fazer até dois semestres do curso de graduação. Desde aquele momento, todos os meus esforços financeiros e intelectuais se voltaram para a realização desse sonho. Havia 3 bolsas de excelência acadêmica em jogo, para os alunos de toda a instituição. Eu me candidatei e fui selecionada para uma delas. Em 2014, eu estava embarcando para a University of Ottawa. Falar sobre o intercâmbio renderia mais uma outra postagem, mas, se eu pudesse resumir a experiência em uma frase, diria que ela mudou definitivamente a minha visão de mundo.
De lá para cá, continuei me aprofundando nos estudos de línguas, literatura, artes e didática. Em 2018, equanto terminava a minha graduação em francês, ingressei no mestrado em Artes Cênicas na UNIRIO – não falei que a ficção era uma parte essencial nessa história de amor com idiomas estrangeiros?.
Continuo a cada dia aprendendo mais no que diz respeito ao ensino. Em 2020, fiz o curso que é reconhecido como um dos melhores do mundo na formação de professores de inglês, o CELTA, oferecido pela University of Cambridge. Foi mais uma injeção de aprendizado e entusiasmo!
Tenho certeza de que continuarei neste caminho e de que há sempre mais para aprender. O aperfeiçoamento é um processo constante, e nada melhor do que aliá-lo às nossas paixões. É por esse motivo que que continuo e continuarei a ser uma grande entusiasta do meu trabalho e das minhas escolhas profissionais. Tenho consciência de que a educação muda vidas, e vidas mudam o mundo.
1 comentário
Jennifer de Araújo Rosa · 16 de maio, 2021 às 15:36
Que trajetória incrível! Cheia de garra, dedicação, superação e muito estudo. Tenho um orgulho imenso da professora, mentora e pessoa que você é. Sem dúvidas, uma das mais comprometidas e competentes da área.