Quando nos propomos a aprender uma língua, devemos ter consciência de que haverá obstáculos no caminho. Um deles se refere ao medo de se comunicar no idioma estrangeiro: medo se expor, medo de errar, medo do ridículo. Neste artigo, falarei sobre as raízes desse medo e como superá-lo na sua jornada rumo à proficiência.

Aprendendo um novo idioma

Primeiros obstáculos

Antes de mais nada, é preciso saber que qualquer pessoa que está estudando um idioma estrangeiro não terá, de imediato, todo o vocabulário que tem na sua língua materna. Por isso, é normal que leve um tempo até se sentir completamente à vontade naquela outra língua. É também natural demorar um pouco até você avaliar suas frases como “perfeitas” ou “do jeito que queria”.

A importância de se arriscar

Contudo, mesmo que leve algum tempo até você estar totalmente confortável, é preciso continuar a se arriscar neste novo idioma. Isso porque o processo de aprendizagem exige uma prática constante. Exige que nós tentemos coisas novas, que testemos coisas novas, que erremos e façamos os ajustes necessários, até acertar. É um jogo de paciência, mas sobretudo de insistência e persistência.

O medo de se expor no idioma estrangeiro

Identificando o medo

É claro que muitas pessoas, no processo de aprendizagem, acabam tendo experiências que não são nem um pouco prazerosas. Às vezes, um colega de classe ri de nós, um professor “diminui” alguma dúvida que temos, ou então recebemos uma crítica de alguém cuja opinião valorizamos.


Eventos assim geraram um certo medo de nos expormos naquela língua estrangeira. Vamos agora investigar essa questão e  como revertê-la.

O porquê do medo

É preciso entender que o medo é um sentimento natural e muito útil para nós como espécie. Ele nos comunica  um “perigo iminente”, nos levando a enfrentar uma situação ou então a fugir dela. 

Mas que perigo seria esse quando o assunto é falar uma língua estrangeira? Provavelmente, o perigo de viver mais uma vez alguma situação traumática – uma ridicularização ou uma crítica que nos feriu, por exemplo.

Na grande maioria dos casos, o processo de ativação do medo já não está no nível consciente. E mais: é possível que ele  já seja tão frequente no nosso circuito mental que qualquer microevento pode servir de gatilho para acioná-lo. 

Como então sair desse ciclo?

Raízes do medo

O primeiro passo para sair do ciclo do medo é ter consciência sobre quando ele surgiu. Pergunte a si mesmo(a): que acontecimento(s) ruim(ns) marcaram sua jornada de aprendizado? Em que momento você se sentiu péssimo, burro(a), ferido(a), e por quê? Alguém disse alguma coisa a você? O que foi? Traga isso para o presente, por mais incômodo que seja. A seguir, explicarei como lidar com experiências passadas de crítica.

O segundo passo é ter clareza de que o medo está baseado em uma projeção. Em outras palavras, nossa mente e nosso corpo se alarmam diante de uma situação que ainda não existe, mas que é encarada como real. Perceba, portanto, que um passo essencial para superarmos o medo é olharmos diretamente para aquilo que o está gerando.

Críticas passadas

Eu disse, anteriormente, que o sentimento de medo pode estar enraizado em alguma situação em que fomos ou nos sentimos criticados. Há duas possibilidades aqui: que a crítica tenha sido destrutiva ou que ela tenha sido construtiva.

Quando se trata de uma crítica destrutiva, é preciso que tenhamos consciência de ela tem um grande poder de nos paralisar. Entretanto, isso de nada nos ajuda.

O que fazer, então, com esse tipo de crítica que não tem por objetivo a nossa melhora? Tentar não levá-las em consideração. Diversos motivos podem ter estado por detrás das palavras ferinas de alguém. Por vezes, as pessoas sequer sabem que estão nos magoando. De todo modo, a crítica que você ouviu diz muito mais a respeito da pessoa que a fez do que a respeito do “alvo” – você.

O você pode fazer, se quiser seguir em frente, é deixar as críticas destrutivas no passado. Acolha a experiência que você teve, mas não se prenda a ela. Além disso, será mesmo que é justo consigo próprio pautar a sua competência ou mesmo inteligência em um comentário que alguém fez? Será que isso invalida todo o progresso que você provavelmente teve, tudo o que você alcançou? É claro que a resposta é “não”.

E no caso de uma crítica construtiva? Bom, se a crítica foi construtiva e ainda assim feriu os seus sentimentos, tente dissociar o que foi dito da sua personalidade. É a velha questão de “não levar para o pessoal”. Isso porque, independentemente do que foi dito, você estará sempre em um novo momento dentro da sua jornada de aprendizado.

Pense que esta jornada é um filme, e o aspecto sobre o qual fizeram a crítica é apenas uma cena, ou mesmo um “frame”. Ele não vai definir toda a história e nunca fará jus a todo o filme. O que é melhor: você é o diretor(a), e pode decidir para qual caminho seguir.

Agora que você já sabe como identificar a origem do medo, vamos a um exercício de prospecção.

Conversando com o medo

A técnica do “pior cenário possível”

Quando o medo bate à porta, espantá-lo pode parecer uma tarefa difícil. Contudo, não é raro que estejamos projetando, em nossas mentes, um cenário mais assustador do que ele seria, caso acontecesse. 

É como uma sombra na parede. Podemos achar que se trata um monstro terrível e enorme, mas, quando investigamos sua origem, descobrimos uma simples plantinha inofensiva. 

Se você cometesse um erro de espanhol ou de inglês na frente de um colega de trabalho, por exemplo, quais seriam as consequências disso? Vamos trabalhar com possibilidades concretas.

Visualizando “o pior”

Consideremos, primeiro, a possibilidade de que os seus colegas de trabalho repararam de fato no seu erro (não há garantias). Dificilmente haveria ali algum julgamento terrível. No caso de eles serem brasileiros como você, será que eles mesmos não tiveram tropeços no percurso? Será que nasceram preparados? Impossível. 

Acho bem mais provável que, caso reparem no erro, esqueçam no segundo seguinte. 

Digamos, então, que eles não esqueceram. Há três cenários aqui.

O primeiro deles é que não falem nada e deixem o assunto para lá. 

O segundo é que lembrem do que você falou e prestem algum tipo de auxílio – dando uma dica para que você corrija aquele desvio, por exemplo.

O cenário mais remoto nesse sentido é que falem “mal” de você por conta desse tropeço. Entretanto, isso lhes exigiria, primeiro: que que eles sintam que tenham um conhecimento que você não tem; segundo: que eles avaliem aquilo básico demais; terceiro: que eles achem que valha a pena investir tempo tendo essa conversa com alguém.

Todos esses panoramas não ajudariam você em nada e não fariam você corrigir o que quer que fosse.

Aceitação e proatividade

Finalmente, o que você pode fazer quanto a pessoas que falam mal de você? Absolutamente nada. 

Levando o raciocínio ao extremo: não somos capazes de controlar o que os outros pensam ou falam de nós. A única coisa que podemos controlar são as nossas ações. Então, por que gastar tempo nos preocupando com algo que está fora do nosso controle? Isso só gera mais tensão e estresse. 

Além do mais, esse ciclo de preocupação normalmente só nos faz nos sentirmos presos ao passado, e normalmente nos paralisa. Provavelmente, não é isso que você quer.

Ok, mas e se essa possibilidade de crítica se aplicar ao seu chefe? Bom, uma coisa é certa: se o seu chefe acha que o caso é grave o suficiente para colocar a sua posição na empresa em risco, provavelmente ele discutirá o assunto com você diretamente, e o abordará de uma maneira construtiva, dizendo que você precisa melhorar pois a empresa requer isso dos seus funcionários. 

Se você acha que o seu chefe é o tipo de pessoa que quer ver você falhar e não espera que você atinja o seu máximo potencial na empresa, então ele está sabotando a si mesmo e a própria instituição para a qual trabalha. 

Uma solução concreta

Caso você esteja muito preocupado com o seu desempenho aos olhos do seu chefe, elimine a dúvida de uma vez por todas: marque uma conversa com ele e lhe pergunte o que a empresa esperam de você em relação a sua proficiência, e como ele avalia o seu desempenho até então.

É extremamente provável que seu chefe fique não apenas contente de ter essa conversa com você, visto que mostra uma proatividade da sua parte, mas também se sinta satisfeito de ter um funcionário que quer servir à empresa da melhor maneira possível.

Lembrando que você pode ter uma conversa similar com os seus colegas de trabalho, pendido um feedback sincero. Se a sua preocupação é a estima deles em relação a você, essa conversa possivelmente vai ter um efeito muito positivo, mostrando sua maturidade e seriedade quanto ao assunto.

A mesma sugestão vale para qualquer pessoa cuja opinião você valorize. Considere ter uma conversa franca com ele(a) a este respeito e esteja aberto ao que ele(a) terá a lhe dizer.

Desmistificando o medo dos nativos

Muitas pessoas têm medo de ter conversas com nativos da língua estrangeira que estão aprendendo por acharem que o seu nível de proficiência não corresponde ao esperado, ou por acharem simplesmente que são ruins naquele idioma.

A grande verdade é que, afora alguns casos de nativos que têm pouca sensibilidade, a maioria dos nativos ficará, na verdade, surpreso com o fato de você ter essa habilidade incrível de falar outro idioma. 

Se estamos pensando aqui em falantes de inglês e francês, por exemplo, é muito provável que eles mesmos não sejam versados em outra língua. É bem possível, contudo, que tenham tentado aprender um idioma e compreendam o quanto esse processo é trabalhoso. 

Em suma, provavelmente os nativos não vão julgar você. Eles podem, sim, se sentir um pouco incomodados se você não estiver sendo claro na comunicação – é o que acontece quando as palavras não são bem escolhidas ou quando se hesita muito na hora de falar.

Se você consegue se comunicar com clareza, provavelmente os erros que, aos seus olhos, são inadmissíveis serão detalhes aos olhos de um falante nativo.

E, mais uma vez: caso esteja preocupado com o que pensam de você nesse sentido, abra uma brecha na conversa e peça a opinião dele(s). Lembrando que você também pode pedir para lhe apontarem algum erro ou desvio que você tem cometido.

O pior crítico: você mesmo(a)

É inevitável que, em algum momento no processo de aprendizagem, você se sinta ridículo(a) por cometer um erro, mas é importante ter consciência de que talvez só você mesmo tenha tido uma avaliação tão negativa quanto a si.

As perguntas que ficam, então, são as seguintes: será que vale a pena simplesmente não se arriscar e perder a oportunidade de receber um feedback a respeito dos seus erros? Ou ainda: será que vale a pena sacrificar uma chance de praticar aquela língua estrangeira por conta do medo? Será que vale a pena deixar de correr pequenos riscos no idioma por querer se manter na zona de conforto? Definitivamente, não.

E ainda: lembre-se que, sem prática, não há progresso.

Onde seu foco deve estar

Todo mundo começa do zero. E do zero a proficiência existe um caminho a ser percorrido. Nessa busca de aperfeiçoamento, você precisa ser insistente e, acima de tudo, desapegado. 

Desapegue-se dos seus erros e do que passou e olhe para frente. Pergunte-se: o que você pode fazer hoje para praticar o idioma que quer tanto dominar, para sentir que está realmente avançando?

Coloque o seu foco no que você consegue controlar: nos seus estudos, na comunicação com outras pessoas. Não há fórmula mágica para ser fluente ou proficiente, há apenas método e disciplina.

Se você colocar seus esforços no seu desenvolvimento no idioma estrangeiro, será uma questão de tempo até você perceber que está alcançando os resultados que tanto almeja.

Outro aspecto importante de ser lembrado é que, às vezes, criamos em nossas mentes dúvidas que nos desestabilizam, e esquecemos que uma simples maneira de resolvê-las é tendo conversas francas com as pessoas com cuja opinião nos preocupamos.

Em resumo, investigue seus medos, mas não deixe que eles assumam o controle da sua jornada. Projete-se para frente, e não para trás. Tome para si a responsabilidade e comprometimento pelo seu sucesso, e você verá que o resto se tornará apenas um detalhe.

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E você? Já investigou seus medos? 

O que você pode fazer hoje para ultrapassá-los?

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